PPA’s Solares para o Mercado Livre de Energia

 

Anúncio de importantes contratos marcam 2020

 

Com altas apostas de crescimento, afinal apenas os projetos solares já outorgados até o 3T/2020 poderão representar investimentos superiores a R$ 32 bilhões a serem aportados no Brasil até 2025, as fontes renováveis são apontadas como um dos fatores que poderão contribuir para a recuperação econômica no país, possibilitando a redução de custo energético para consumidores além de reforçar o alinhamento às iniciativas ESG – Ambientais, Sociais e Governança cada vez mais relevantes no posicionamento estratégico das corporações.

 

“Houve uma importante aceleração do interesse dos consumidores livres em contratar energia renovável através dos PPA’s ou autoproduzir a energia. Uma forma bastante competitiva para diversificar o portfólio de geração com fontes renováveis e agregando previsibilidade de um contrato com prazos em geral de 15 a 20 anos” , segundo Marcio Takata, diretor da Greener, empresa de inteligência de mercado que cobre o setor.  

 

Apesar dos reflexos da pandemia, grandes consumidores de energia no mercado livre anunciaram a contratação da fonte solar e eólica no primeiro semestre de 2020. A Braskem, empresa brasileira que atua no setor químico e petroquímico, fechou em março parceria com a multinacional francesa Voltalia para a compra de energia solar por 20 anos. Por meio do acordo, será viabilizada a expansão do complexo solar Serra do Mel, no Rio Grande do Norte, projeto contido entre os vencedores do 30º Leilão de Energia Nova (A-6). Além dos 32 MW vencedores no leilão, a Voltalia ainda negociou contratos adicionais no Mercado Livre de Energia com uma série de compradores, além da Braskem. 

 

Um segundo acordo, este em junho, foi concluído com a Canadian Solar Inc., uma das maiores empresas no mundo do setor solar. Também com prazo de 20 anos, o contrato permitirá à Braskem a construção de uma usina no norte de Minas Gerais com capacidade de 152 MW, que poderia atender o consumo mensal de uma cidade com 430 mil habitantes. As obras estão previstas para começar em 2021. 

 

Os contratos de fonte solar firmados pela Braskem irão viabilizar a implantação de cerca de 150 MW em Minas Gerais e Rio Grande do Norte. A companhia ainda tem parceria com a EDF Renewable em fonte eólica desde 2018 para a expansão do Complexo de Folha Larga, na Bahia. Somente por meio dos três contratos, com fontes solar e eólica, comemoram estar perto da marca de evitar as emissões de 1 milhão de toneladas de CO2.

 

Segundo Gustavo Checcucci, diretor de energia, na Braskem o desenvolvimento sustentável é um objetivo alinhado à estratégia de negócio. “Temos o compromisso e o empenho com uma atuação de baixo carbono, e a busca por matrizes energéticas limpas e sustentáveis faz parte dessa jornada. Nossos contratos nos permitem a compra de energia convencional, mas optamos por investir em modelos renováveis”.

 

A Braskem também faz uso de fonte hídrica e Checcucci adianta que a expectativa é seguir ampliando o uso de energia limpa nas operações da companhia, construindo modelos de negócios cada vez mais sustentáveis. “Atualmente, as eólicas e solares são fontes mais competitivas, o que é confirmado pelo resultado dos últimos leilões de energia nova no ambiente regulado. Acreditamos que a energia renovável continuará sendo cada vez mais competitiva no Brasil, principalmente quando analisada sob a ótica dos contratos de longo prazo, que garantem estabilidade no fornecimento e viabilizam novos investimentos”.

 

Os contratos de energia renovável foram realizados via PPA’s (Power Purchase Agreement), e Checcucci explica que, na visão de um consumidor como a Braskem, que possui consumo relevante e trata energia como insumo estratégico, a principal vantagem de atuar no mercado livre de energia é a possibilidade de gerenciar seu próprio portfólio. “Além disso, a possibilidade de negociar um acordo de compra de energia conforme sua necessidade específica traz competitividade, assim como os contratos de longo prazo garantem investimentos mais consistentes para viabilizar a construção das usinas, beneficiando todos os envolvidos”.

 

A pandemia não afetou os projetos solares contratados pela Braskem. Checcucci comenta, no entanto, que o custo da fonte solar pode ser impactado pela desvalorização do real, já que muitos equipamentos são importados. O diretor não descarta, porém, ampliar o uso de energia solar em outras plantas em um curto prazo, uma vez que a companhia está sempre atenta e aberta a novas oportunidades de mercado que favoreçam sua visão estratégica de negócios, pautada pelo desenvolvimento sustentável e por uma atuação de baixo carbono.

 

“Creio ser importante destacar que a sustentabilidade energética será alcançada com uma matriz energética mais renovável, somada ao avanço das iniciativas de eficiência energética. Procuramos estar entre as melhores indústrias químicas do mundo em intensidade de consumo energético e ser um importante usuário de energia de fonte renovável. Para isso, buscamos de forma contínua soluções que ajudem a aprimorar a eficiência e com isso reduzir o consumo energético de nossas unidades produtivas – o que se reflete nos âmbitos socioambiental e econômico”, conclui.

 

Com metas ambiciosas e recursos substanciais, a Anglo American, mineradora britânica, é outra companhia na corrida pela sustentabilidade por meio de energia limpa. No início de 2020, junto à Atlas Renawable Energy, empresa que desenvolve, constrói e opera projetos de energia renovável com contratos de longo prazo em toda a América Latina, anunciou o maior PPA bilateral de energia solar naquele momento no Brasil. O contrato de aquisição, de larga escala, prevê o fornecimento de 70 MW médios de energia solar para alimentar as operações da Anglo American no País. 

 

A iniciativa conta com investimentos de R$ 881 milhões e aproxima a empresa de seu objetivo de adquirir 100% de energia elétrica a partir de fontes renováveis até 2022. O acordo também ajudará o grupo Anglo American a reduzir 30% da emissão de CO2 até 2030, conforme especificado em seu Plano de Mineração Sustentável. O fornecimento de energia limpa ocorrerá por meio da usina solar fotovoltaica da Atlas Casablanca, localizada no estado de Minas Gerais, e deve fornecer cerca de 9 TWh no prazo do contrato, que será de 15 anos e terá início em 2022. A planta solar da Atlas Casablanca tem uma capacidade instalada de 330 MW com mais de 800 mil módulos fotovoltaicos. A usina produzirá energia suficiente para abastecer uma cidade de 1.4 milhão de habitantes, de acordo com o consumo médio de uma família brasileira.

 

Além desse contrato, em dezembro de 2019 a mineradora firmou acordo com a AES Tietê para compra de 70 MW médios de energia eólica, também por 15 anos, em que estão sendo investidos R$ 670 milhões na construção do parque eólico na Bahia. E, mais recentemente, em junho, Anglo American e a Casa dos Ventos se tornaram acionistas de Sociedades de Propósito Específico (SPEs) para a produção de energia renovável no parque Eólico Rio do Vento, um dos maiores empreendimentos eólicos do mundo, no Rio Grande do Norte. O projeto receberá investimento de R$ 2,4 bilhões na construção de oito parques eólicos, dos quais três serão destinados à produção de energia para a mineradora. As obras de construção do empreendimento serão entregues no segundo semestre de 2021.

 

Tais iniciativas, de acordo com Wilfred Bruijn, CEO da Anglo American no Brasil, se alinham à estratégia da empresa de criar um mix energético inteligente que a aproxima de suas metas de carbono e energia para 2030, além de ajudar a concretizar a expectativa de operar minas neutras em carbono para o fornecimento de metais e minerais de forma mais sustentável. Com as três aquisições, a Anglo American soma 235 MW médios provenientes de energia renovável em solo nacional.

 

Além dos casos aqui abordados, o primeiro semestre trouxe outros importantes contratos de fornecimento de energia renovável, a expectativa para os próximos semestres é de aceleração do volume de novos PPA’s de geração renovável. 

 

Por Leslie Carvalho, Jornalista Colaboradora

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