Entrada do Brasil no mercado global de carbono reforçou protagonismo do país no debate sobre transição energética e combate ao aquecimento global
A criação de um fundo internacional de reparação de perdas e danos aos países em desenvolvimento mais vulneráveis a desastres relacionados às mudanças climáticas foi a principal resolução da 27ª Conferência do Clima da ONU – COP27. Por outro lado, não se chegou a um acordo sobre medidas para reduzir o uso de combustíveis fósseis, principais responsáveis pelo aquecimento global, mesmo com o registro de aumento nas emissões de gases causadores do efeito estufa em todo o mundo.
Como pontuou o secretário-geral da ONU, António Guterres, a criação desse fundo de reparação, ainda que urgente, não será o suficiente para combater a crise climática caso não haja investimentos e parcerias voltados à transição energética a fim de eliminar gradualmente fontes como o carvão e aumentar o uso de energias renováveis para manter o aumento da temperatura do planeta no patamar de 1,5 °C, assim como estabelecido no Acordo de Paris. Guterres propôs um pacto com instituições financeiras e o setor privado para a aceleração de uma transição energética justa e sustentável entre as economias emergentes, muitas destas ainda bastante dependentes de combustíveis fósseis.
Sendo a segunda maior delegação da COP27, o Brasil chegou a Sharm el-Sheikhn, no Egito, como referência mundial na geração de energias renováveis, com 85% de sua matriz elétrica oriunda de fontes hídricas, eólicas, solares e de biomassa, enquanto a média global é de cerca de 25%. A participação do país no evento começou com uma rodada de painéis que abordaram pautas como mobilidade urbana, desenvolvimento sustentável na gestão pública e mercado de capitais e ativos ambientais.
A entrada do Brasil no mercado global de carbono foi outro assunto de destaque. Segundo estudo do ICC Brasil em parceria com a WayCarbon, a participação do país pode representar quase 49% da demanda global por créditos de carbono até 2030, chegando a uma oferta de até US$ 120 bilhões – projeção que tem despertado o interesse de vários mercados internacionais. Neste debate, que contou com quadros do Ministério do Meio Ambiente e do BNDES, também foi anunciado o lançamento do programa BNDES Créditos de Carbono, iniciativa pioneira no país de compra de carbono regular por um banco público, a fim de estimular projetos geradores de créditos.
Uma das fontes que crescem mais rapidamente na produção de energia limpa no país, com mais de 20GW de potência instalada, a solar fotovoltaica também foi tema de um dos painéis, que contou com a participação de agentes importantes do setor solar brasileiro. O potencial de expansão da geração distribuída (GD), que contabiliza mais de 14GW de potência instalada, capacidade equivalente à da usina hidrelétrica de Itaipu, e a importância da energia solar para o futuro do mercado de hidrogênio verde, uma vez que esse é produzido a partir da eletrólise da água por meio de energia com baixa ou nenhuma emissão de carbono, foram os pontos de destaque.
Em meio à transição de governo e com participação discreta nas negociações, o Brasil assinou um acordo de cooperação com a Indonésia e a República Democrática do Congo. Os três países abrigam as maiores florestas tropicais do planeta, e o objetivo da aliança é atuar como um bloco em decisões que envolvam questões de preservação.
A Conferência do Clima chegou ao fim sem propostas de ações concretas para a substituição dos combustíveis fósseis, medida essencial para o cumprimento das metas de redução dos gases do efeito estufa. A criação do fundo de reparação é de extrema importância e bem-vinda neste momento, mas não podemos dissociar o combate ao aquecimento global do processo de transição energética.
Neste quesito, o Brasil sai na frente. Temos a maior matriz energética limpa do planeta, e o mercado de renováveis é um dos mais promissores, crescendo exponencialmente a cada ano. Com as atenções do mundo mais uma vez voltadas ao país com a retomada da agenda ambiental, será possível mantermos o compromisso de reduzir nossas emissões pela metade até 2030. Sendo assim, o Brasil pode ocupar uma posição de protagonismo na transição para um modelo energético sustentável.